Chave de leitura: Js 24,1-13
1. Acredito que será a primeira vez que será feita a Leitura Orante com um texto do Antigo Testamento. Não podemos nos aproximar de um texto do Antigo Testamento com o preconceito de que se trata de algo difícil de entender. É sempre Deus que está falando. Não podemos nos aproximar de um texto do Antigo Testamento como se fosse algo ultrapassado. É sempre Deus que está falando e tudo tem pleno sentido em Jesus Cristo. É uma Palavra atual. Não podemos nos aproximar de um texto do Antigo Testamento como se tivéssemos diante de uma história que não tem sentido nenhum para a nossa existência. Os acontecimentos da História da Salvação são acontecimentos que iluminam a nossa vida pessoal, a vida da nossa comunidade, a vida dos nossos dias. Nós temos que estar dentro desta história. Quem não consegue se encontrar dentro dos acontecimentos da História da Salvação está cego, pois não consegue enxergar a ação de Deus na sua vida. Quem não consegue se encontrar dentro dos acontecimentos da História da Salvação está surdo, pois não consegue entender o que Deus lhe está falando.
2. O texto desta Leitura Orante tem um contexto histórico. O povo de Israel (nós, Igreja, somos o Novo Israel), após uma caminhada de séculos, desde Abraão; e após uma caminha de décadas, desde a libertação da escravidão do Egito, está para entrar na Terra Prometida. Josué, que nos últimos anos tinha sucedido a Moisés, é o encarregado de preparar o povo para este momento tão esperado e novo na caminhada do povo de Israel. O local de preparação deste momento é Siquém, praticamente entre a Samaria e Jerusalém.
3. Esta Palavra de Deus, com a qual fazemos a Leitura Orante antes do início da Quaresma e antes da Assembleia diocesana do dia 01 de maio, quer também iluminar a nossa caminhada desde quando fomos chamados à fé, como Abraão, desde quando começamos a fazer nossa caminhada na Igreja e desde quando aceitamos o convite de Deus para seguirmos o seu Filho Jesus Cristo, buscando viver em comunidade neste Projeto Diocesano de Evangelização (PRODE)
4. Vou tentar dar pistas de atualização desta Palavra para que depois vocês também possam ajudar os irmãos na Leitura Orante. A primeira coisa, talvez a mais importante, é a que diz Js 24,1: “se colocaram ordenadamente na presença de Deus.” Temos que ter esta consciência e convidar os irmãos presentes na Leitura Orante a estarem diante de Deus. Estar diante de Deus significa estar com a história aberta para que Ele ilumine. Não, em primeiro lugar, a história dos outros ou do mundo, mas a própria história pessoal.
a) Js 24,2-4: “Além do rio habitavam outrora vossos pais... e serviam a outros deuses... tomei vosso pai Abraão... e o fiz percorrer toda a terra de Canaã, multipliquei a sua descendência.”
- “Além do rio” pode significar um momento da vida em que ainda não se tinha feito uma experiência verdadeira com Deus. Tinha-se a religião de todos. A religião desvinculada da vida que só servia para pedir ajuda aos deuses para os seus próprios planos. Tratava-se de um “deus” distante, cheio de poder, mas distante.
- “Serviam a outros deuses”. Trata-se da idolatria: um deus que serve para me satisfazer. O nosso mundo também tem seus deuses: ter(dinheiro, posses, luxo...) poder (status, dominar sobre a vida dos outros e da sociedade...) prazer (sexo, droga, comida, diversão...) O ídolo nos escraviza. Nós ficamos dependente dele e por momentos de satisfação “vendemos” a nossa liberdade e felicidade. É preciso ter coragem para recordar e identificar os momentos da nossa vida que estávamos ali, “além do rio”.
- “tomei vosso pai Abraão”. Deus toma a iniciativa de realizar uma obra de salvação e libertação. Faz um chamado a Abraão para que ele saia de uma vida de mentira. Abraão acolhe a proposta de Deus e faz uma caminhada: um caminho de fé. Abraão é chamado o pai da fé. É importante que nós também saibamos identificar em nossa vida o momento em que Deus nos “tomou”. Ele se apresentou em nossa vida e fez uma proposta que nos fez sair dali “além do rio”.
- Para compreender melhor a história de Abraão que também é nossa história, leia e medite: Gn 11,27-32; Gn 12-22
b) Js 24,5: “...enviei Moisés e Aarão e feri o Egito com os prodígios que operei no meio dele; depois vos fiz sair de lá.”
- O povo que descende de Abraão, que tem o dom da fé, necessita sempre de libertação, pois na caminhada sofre enganos e ilusão. Um engano e ilusão é o Egito, terra rica e opulenta, onde acabam se tornando escravos. O Egito representa toda a escravidão do ser humano. O que escraviza verdadeiramente o ser humano é o pecado. Muitas vezes somos escravos e não temos nem consciência e nem força para trabalhar em nossa libertação. Faraó, rei do Egito é o símbolo do opressor, daquele ou daquilo que tira a nossa liberdade. Moisés e Aarão são a presença de Deus que nos convida a fazer uma caminhada libertadora.
- Temos que saber identificar os momentos de Egito da nossa existência e quem são ou quais foram os faraós de nossa vida. Por outro lado, é preciso também saber identificar em nossa história quais são os “Moisés e Aarão” que Deus tem providenciado para que experimentemos a libertação.
- Para compreender melhor a história da libertação do Egito, que é também a nossa história, leia e medite: Ex 1; Ex 2,23-25; Ex 3-15
c) Js 24,7: “...e depois habitastes no deserto por longos dias.” O povo de Israel no deserto faz a experiência de ir aprendendo a colocar em Deus toda a sua confiança. Com o sofrimento e a privação são educados a colocar somente em Deus a própria segurança.
- O deserto é o lugar da educação do povo de Deus na sua fé. Em vários momentos da nossa vida Deus nos coloca num deserto. São aqueles momentos e acontecimentos onde as pessoas e o que temos nos decepcionam e não servem para nada e temos que saber confiar unicamente em Deus e na proposta que Ele nos faz. No deserto Deus fala ao coração do seu povo.
- Muitos acontecimentos do povo de Deus no deserto são narrados na Bíblia. Entretanto, escolho um para aprofundamento: Nm 21,4-9. Este episódio fala da educação de Deus a seu povo.
d) Js 24,8-12: “...vos fiz entrar na terra dos amorreus...eu os entreguei em vossas mãos...os destruí diante de vós...Balac...mandou chamar Balaão...para vos amaldiçoar...ele teve de vos abençoar...passastes o Jordão para chegar a Jericó, mas os chefes de Jericó vos fizeram guerra...e eu os entreguei nas vossas mãos...vespas...expulsaram da vossa presença os dois reis amorreus, o que não deves, nem à tua espada, nem ao teu arco.”
- Nestes versículos estão sintetizados os momentos importantes da Conquista da Terra Prometida.A experiência do povo de Isarel – e é isso que Deus está lembrando a eles – é que a vitória sempre foi de Deus. Eles ficaram em situações extremas, mas puderam detectar em cada momento que Deus os fez vitoriosos.
- Toda essa vitória de Deus é uma educação: o povo tem que saber que é Deus que age na história. Ele é o vencedor. O povo deve aprender a depositar toda a sua confiança em Deus, não cegamente, mas vendo o que Deus fez na história e entregar sua vida sem desconfianças a Ele.
- Identificar na nossa vida quando Deus foi vitorioso é um “exercício” eficiente para nos ajudar a entregar nossa vida a Ele sem desconfianças e a viver conforme a Sua Palavra.
- Para aprofundamento e meditação sugiro: Nm 22-24; Dt 6-7
e) Js 24,13:”Dei-vos uma terra que não exigiu de vós nenhum trabalho, cidades que não construístes e nas quais habitais, vinhas e olivais que não plantastes e dos quais comeis.”
- A Terra Prometida, da qual Israel no Antigo Testamento tomou posse, é somente uma figura da verdadeira Terra Prometida, que é o céu. Enquanto caminhamos na fé nesta nossa vida, estamos sempre a caminho, estamos sempre para entrar na Terra Prometida. Esta assembleia de Siquém, portanto, para nós, é sempre atual. Em cada momento e várias vezes em nossa vida temos que recordar o caminho feito para renovarmos uma Aliança de fidelidade e gratidão com o nosso Deus. De fato, o céu, a vida eterna, não é algo que conquistamos com as nossas forças e lutas. Quem já conquistou tudo isso para nós foi Jesus Cristo. Somos chamados, sim, a reconhecer a obra que Ele vem realizando em nossas vidas para que nos tornemos partícipes desta Terra Prometida.
- Esta Leitura Orante é somente para viver a recordação das maravilhas de Deus. Esta temática será retomada e continuada na próxima chave de leitura.
5. O esquema da Leitura Orante é o mesmo que temos feito nestes dois últimos anos. Apenas algum membro da equipe responsável pela preparação, irá fazer um comentário inicial mais longo, explicando estas analogias entre a vida do povo de Israel do Antigo Testamento e a nossa vida, hoje.
6. No momento da partilha, quem está coordenando a Leitura Orante, fala de novo das analogias. Pode, depois, colocar as seguintes perguntas para facilitar a partilha:
a) Em que momentos da sua vida você reconhece que estava “além do rio”, adorando outros deuses? Quando foi, concretamente, que Deus apareceu e te tomou para fazer um caminho de fé?
b) Quais foram e quais sãos os “Egitos” da sua vida? Quem foi ou quais foram os faros da sua vida? Você tem algum faraó hoje? Quem apareceu na sua vida como Moisés e Aarão?
c) Na sua caminhada de fé você consegue identificar que foi Balac, os chefes de Jericó e os povos que querem impedir a posse da Terra Prometida?
d) Quais foram os momentos de Assembleia de Siquem na sua vida: momentos que você teve que reconhecer o que Deus fez em sua vida e optar seriamente por Ele?
7. Após o momento de oração, no lugar do salmo, pode ser cantado “O povo de Deus no deserto andava...”
Pode ser passada para as pessoas as citações acima para a Leitura Orante individual.
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